quinta-feira, 18 de março de 2010

PROCURANDO ESTRELAS

O mundo é assim, as pessoas são assim.... eu sou assim, complicado e difuso, às vezes normal, outras nem tanto. Sumo e reapareço, como os sinais luminosos.
Outro dia me senti Olavo Bilac. Ele mesmo, aquele apelidado de Príncipe dos Poetas!
Pois bem, aproveitei que a noite era enluarada e me pus à janela, com os olhos atentos às estrelas. O céu estava repleto delas, umas menores, outras maiores, umas mais perto, outras mais longe, com menor e maior brilho... uma profusão! Será que dá pra ouvi-las?... Talvez... se eu me tresloucar, quem sabe, dá pra ouvi-las e entendê-las....
Meus olhos varreram o infinito e, de repente, me dei conta de que havia um propósito dentro de outro propósito: eu contava encontrar, talvez na esquina de alguma Via Láctea, quem sabe reabastecendo sua fonte luminosa, ou reajustando o foco de sua luz... talvez numa brecha sideral qualquer meus olhos ansiosos encontrassem uma estrela especial e inédita, ainda sem o batismo dos astrônomos. E depois de algum tempo de frustrada busca volvi os olhos para dentro de mim mesmo. É, percebi que não basta sentir-se poeta, ainda que tresloucado, nem fincar os cotovelos no peitoril, para perceber estrelas especiais, e muito menos ouvi-las e entendê-las.
Fechei os olhos, respirei fundo, tranquei a janela atrás de mim e caí na realidade, pus os pés no chão: se não sou poeta, se dentro de mim não se assenta nenhuma musa, como posso ouvir e entender estrelas, e estrelas proeminentes? Bilac que me perdoe, mas foi aí que desejei seu talento, sua habilidade de lidar com as palavras. Ah! – pensei – se eu tivesse, como Bilac, o domínio da arte literária; se eu soubesse, como ele, dizer as coisas poeticamente, contar histórias com açúcar e com afeto... Se, a seu exemplo, eu dominasse o jeito de colocar encanto e romantismo na minha prosa, de modo a apertar com minha mão de escritor os pulmões de minhas leitoras para lhes alterar a respiração até deixá-las encantadas, visionárias, quêdas... Se eu tivesse esses dotes, essa artinha, usaria uma tinta especial, tirada do coração, e colocaria no papel meia dúzia de palavras mágicas, meia dúzia que fosse, para deixar tresloucada e frágil, perdidamente apaixonada, a mulher que nas minhas noites de sonhos, enluaradas ou não, faz brilhar, como nenhuma estrela, meu propósito de vida.
Mas eu disse que sou complicado e difuso. Disse também que às vezes sou normal. Melhor apagar esta última afirmativa. Complicado e difuso ficam-me melhor. E é por ser assim que desapareço. E é também por ser assim que reapareço. Mas esta reaparição é apenas uma brecha no meu eterno silêncio, a que agora me proponho; digamos, uma fraqueza de quem sabe que deve calar, tem consciência de que seu envolvimento só abre feridas, sua para-normalidade (existe isso?!) só encurta o espaço entre o presente e o passado que se quer olvidar, mas que carece de mostrar-se um pouco; de ver, embora de soslaio, uma Estrela-Mulher que teima em brilhar no seu céu.
É impossível isolar-se de si mesmo. Por isso, eis-me aqui, mesmo que por breve tempo. Deixo-te por agora, Estrela, e, quem sabe, para sempre. Recomendo-te... não... proíbo-te, isto sim, proíbo-te de dar-me atenção, de dobrares a esquina para ter comigo, para que não caiamos em tentação, e o céu escureça e despenque uma tempestade sobre nós. Fica-te aí com tua nova constelação, teu novo brilho, teu cheiro de flor – e Flor do Lácio -, longe das frustrações que te possam arrancar lágrimas, até mesmo porque estrelas não fazem chover. Concordas que devo sumir?

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