quinta-feira, 11 de novembro de 2010

UM AMOR ESTRANHO

“Amo este pássaro” – confessou aquele moço,
Que o sustinha numa gaiola nova, bonita,
Na qual a ave pula, bate as asas, se agita,
E se percebe com um laço no pescoço.

Porém canta, e seu canto mascara o alvoroço,
Sua batalha inglória, vã, sua expectativa
De retornar, urgente, à flora nativa,
Ao seu habitat posto além “daquele troço”.

Mas seu amo já não vive sem o canto altivo,
Sem a trilha sonora desse ser cativo;
Seu imaginário voa nos silvos de sua presa.

E lhe dá alpiste, água, lhe dá carinho,
Conquanto que engaiolado e seu, sem ceu, sem ninho...
O moço “ama” a ave, mas castra-lhe a natureza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário