domingo, 27 de março de 2011

VERSOS PARA ANINHA

As aves, muitas vezes, migram em bando,
cruzam fronteiras, na força do destino;
mudam a Terra num mundo pequenino,
cortando os ares, firmes, pelos céus voando.

Pensando nestas aves, lembro-me quando
você, Aninha, com coragem e tino,
ganhou os céus num lindo sonho feminino
e foi, solitária, os louros conquistando.

Nas asas de outros sonhos você voará
e fortes emoções sei que sentirá...
Sinto até ouvi-la dizer: “Eu consegui!”

Cada conquista sua no meu peito cala,
e de atalaia me ponho, para ajudá-la,
pronto a dizer, incontinenti: “Estou aqui!”

ONTEM E HOJE

Éramos seis, por distintos cromossomos
sábia e geneticamente divididos;
arredios todos, digamos... inibidos.
Uma família feliz, ainda assim, fomos.

Sempre juntos, nosso espaço disputamos
honradamente, sem os meios descabidos.
Era mister lutar, ser reconhecidos....
Foi por essa via que sempre caminhamos.

Hoje somos cinco, estamos incompletos;
um ato fúnebre deixou-nos repletos
os corações de uma dor indefinida.

A alegria cedeu lugar ao sofrimento;
abate-se sobre mim o sentimento
de que perder um filho é perder a vida.

SAUDADE DE MEU FILHO

Júnior, filho meu, que fatalidade!
Trinta anos só, e a vida interrompida,
e com ela os sonhos, e a mocidade,
e os planos de pai, e a glória merecida.

Certo não contavas, na tua ingenuidade,
em que pese a inteligência sem medida,
que mãos insanas, cheias de maldade,
a serviço de uma mente homicida,

de um coração sem Deus, enfurecido,
sob torpe e vil motivo, descabido,
de forma infame, covarde e cruelmente

caíssem sobre ti, assim, cheias de ódio
e te fizessem tombar - num episódio
que marca minha vida, eternamente.

REFLEXÃO

Quando meus joelhos se dobraram ao teu lado
e contemplei as tuas mãos próximas ao peito,
a minha emoção revelou-se de tal jeito
que contive as lágrimas e fiquei calado.

Encontrar-te assim, olhos abertos, prostrado,
teu corpo estendido sobre aparente leito,
no centro do tórax um orifício feito,
e teu coração (e tudo o mais) paralisado,

foi o limite supremo de meu sofrimento,
porque jamais supus viver esse momento
de pesar, de extrema angústia e consternação.

Hoje, a falta que me fazes é sem medida;
então reflito saudoso sobre tua vida
e freqüentemente não contenho a emoção.

VOCÊ AÍ E EU AQUI

Tudo misturado e separado,
Veja que coisa sem jeito:
Você aqui, bem dentro do meu peito,
E ao mesmo tempo fora de mim,
Uma relação boa e ruim,
Meu olhar para o sul vertido;
Seu olhar para o norte, incontido.
Um sonho, vários planos, uma utopia,
Pensamentos que um dia
Construímos juntos,

Você aí e eu aqui.

Cada um dentro do outro
E cada um lá no seu canto,
Uma mistura de riso e de pranto,
Uma fusão de juras e amarguras.
Cada beijo que dei e recebi
Nunca foi real, nunca senti;
Cada desejo meu e seu
Pela vida se perdeu
E pela vida se refez intenso,
Por obra e arte deste amor imenso,

Você aí e eu aqui.

Muitos devaneios, um suplício;
Uma história intrigante, curiosa:
Ora o tempo do espinho, ora o da rosa.
Um abismo entre nós dois,
Um “sim” hoje, um “não” depois,
Mistério e transparência,
Calmaria e turbulência,
Nossas almas se querendo
E cada um de nós sofrendo
Encontros e desencontros,

Você aí e eu aqui
.

Minhas mãos nunca tocaram
Em seu seio ofegante...
Seu corpo assim tão distante,
Meu corpo assim tão carente.
E essa agonia que sufoca a gente.
E essa vontade sem medidas
De unirmos nossas vidas,
Juntarmos nossos lençóis...
No entanto estamos sós,
Posto que juntos, nesse frenesi,

Você aí e eu aqui.