quinta-feira, 18 de março de 2010

INSÔNIA

Venho ultimamente sofrendo de insônia. Mas não é uma insônia qualquer, dessas sem um fiozinho sequer de desvario. Diga-se logo de uma vez: Estou com a insônia dos apaixonados!
Você rir?! Pois não devia! Esse desacordar em altas madrugadas ou esse não cair nos braços de Morfeu (Morféia, no meu caso) por noites repetidas deve fazer parte de sua história, seja nos idos tempos, quando a mocidade lhe fazia cócegas de amor, seja nos dias atuais, sei lá, mas esse deve ser um bichinho que já picou você, que já lhe pôs sombras nos olhos.
Então você, digamos assim, é minha testemunha e companheira(o) desses divagares noturnos, assíduos e incorrigíveis, quando a criatura que teima em desarranjar nosso juízo e espantar nosso sono não se apieda de nossos sentimentos e junta, então, nossa mente e nosso coração num só sistema utopista, fazendo de um reflexo do outro: O coração, relicário de sonhos; a mente, configuradora deles. Aquele, sensível depositário da alma apaixonada; esta, divulgadora fiel das coisas do coração. O primeiro, corda; a segunda, caneca.
O que não sei, ainda, é se também com você acontecem os passeios, as viagens com ela, (ou com ele), porque comigo é assim, de ordinário lá vou eu, de mãos dadas com minha amada, rua abaixo, rua acima, nos cinemas, nos restaurantes, nos shoppings, em tudo quanto é canto.
É um viver quase que real, aos abraços e beijinhos amiúde, escolhendo cardápios, refletindo cenas cinematográficas, olhando vitrines, tomando banho de mar, uma foto aqui, outra foto ali, curtindo caminhadas ecológicas, fazendo planos a imediato, médio e longo prazo... Uma loucura! Mas uma loucura doce, singular, aconchegante, desumana talvez, talvez perversa, se vista sob o código de ética dos acima de qualquer suspeita, mas incomensuravelmente benfazeja aos excluídos das paixões reais, aos postos ao desamparo de uma costela confidente, parceira e cúmplice, a popularmente chamada de “alma gêmea”. E aí, as noites ficam compridas demais, os lençóis não param alinhados, o travesseiro, nem sempre bom confidente, às vezes se esgueira cama abaixo, quem sabe para fugir dos repetidos e freqüentes questionamentos a que ele, mísero encosto encefálico, mero apoio craniano, não se sente obrigado a responder.
O fato é que as noites em claro se me repetem e com elas os anelos, as imaginações estapafúrdias, as quimeras desvairadas, os projetos inverossímeis, as interações virtuais - o diabo! É aquele negócio: se o sono não vem, melhor é dar asas à imaginação e danar-se a fazer dos miolos ferramentas do devaneio e construir os castelos mais lindos; dar trela aos impulsos e realizar as viagens mais loucas; dar liberdade ao imaginário e deixá-lo solto neste mundo de ninguém para arquitetar e escrever rápido e com perfeição as mais belas histórias de amor.
Afinal, sonhar, mesmo que acordado, não custa nada e massageia nosso ego. Eu sonho, tu sonhas... Vamos conjugar juntos esse verbo intransitivo? Não deixe que a insônia, essa – imagino – disfunção, aguda ou crônica, do sistema nervoso, desacorde sua vontade de ir à lua, amesquinhe seu desejo de curtir a paixão mais ardente ou lhe confira o bisonho trabalho de contar carneirinhos. Acordado ou dormindo, sonhar é preciso! Desperte o Ser imaginativo que existe em você!

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