segunda-feira, 7 de março de 2011

HÁ CEGOS E CEGOS

Há cegos que não podem ver, há os que não querem ver, mas há, também e estranhamente, os que vêem demais, embora tenham nascido sem acuidade visual.
Os que não podem ver são os normais, estes que encontramos todos os dias de bengala na mão, tateando entre um espaço e outro, espreitando atropelos, às vezes com a mão sobre um ombro amigo, quando os há, mas todos para sempre no escuro, esteja escuro ou claro. Entre eles há os que pedem esmolas para si e os que pedem esmolas para quem lhes empresta o ombro, ou seja, existem cegos com necessidades pessoais distintas e cegos para as necessidades alheias e mesquinhas, cujos protagonistas deles lançam mão para se locupletarem, que os instrumentalizam para o engodo e surrupiação da piedade alheia e não precavida.
Entre os que não querem ver, borbulham exemplos. São os que, embora nascidos com acuidade visual, limitada ou não, procedentes e não procedentes de berços de ouro, fazem-se cegos às coisas e pessoas para as quais existem, seja pelo voto, seja pelo juramento, ou mesmo pelas obrigações inerentes ao exercício do cargo ou da cidadania. Estes, nós os encontramos nos serviços públicos nacional, estadual e municipal, e tanto na cúpula quanto na periferia dos três Poderes Constituídos. Circulam no Congresso, no Palácio do Planalto, nos Ministérios e entre os togados e não togados do Poder Judiciário. São as ervas daninhas do dinheiro e da vergonha públicas e privadas, urbana e da roça, e proliferam em todas as camadas sociais, entre pretos e brancos, pobres e nem tanto, com ou sem farda. São tantos que os noticiários televisivos ou da imprensa comum não os comportam, sobram pelo ladrão, e ladroeiramente nos atacam incansável e despudoradamente. Eles têm normalmente em seus perfis a cara deslavada, o cinismo por identidade e a ganância por profissão. Vamos dizer a palavra certa e única – São ladrões!
Felizmente, há os que enxergam demais, posto que cegos. Sobre estes, bastam-me dois exemplos: NOBUYURI TSUJII (pianista) e IOANA GANDRABUR (violonista).



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